Amor de pai é diferente:
não tem dor de parto,
não tem abraço pegajoso,
o carinho não se verbaliza em diminutivos,
não tem leite (exceto o da lata,
preparado a desoras
na mamadeira esterilizada).
Amor de pai distante
é mais diferente ainda:
não tem rotina de bom dia e durma bem,
não tem vai escovar os dentes filhinha,
não tem.
Amor de pai distante
é mais fácil de entender pelo que falta.
O dente que nasceu
e o pai não viu,
o machucado que sarou
e o pai estava longe.
Amor de pai distante
é diálogo de ausências.
A perda, que cresce junto com os filhos.
O tempo correndo diferente:
a semana de fazer de conta que nada está errado,
o dia da visita,
a hora da conversa ao telefone
– ah, o telefone tocando de manhã –
doçura e crueldade
de filhos contando histórias
de outra cidade
outro planeta.
Amor de pai distante
é a ponte que começa
no abraço de despedida,
atravessa a memória
e despenca no absurdo.
ROTEIRO DE APRENDIZADO
Cinco cachorros na gaveta • Amor de pai
A persiana do quarto • Tempo do encontro