Não é hora ainda de curar o mundo,
se a primeira tarefa exige o corte.
Não vou achar o Self numa selfie:
saber desses segredos ignotos
talvez só caiba ao cão.
Um certo cão, com olhos de estilete,
talvez assim me explique a diferença
entre uma bomba de nêutrons
e um coração disparado,
entre uma tangerina madura
e o gosto de um beijo de amor.
Não obstante, conservo
cinco cachorros na gaveta.
Deles só vejo os olhos
que investigam pela fresta.
Um dia talvez construiremos
uma casa sem chaves, sem gavetas,
onde homens e cães partilhem rastros
com árvores e coisas incontáveis.
No denso sofrimento da gaveta
que se derramará feito torrente
os rastros formarão novos desenhos
de algo jamais visto ou farejado.
E os cães em correria serão cinco,
rolando sobre um chão reinventado,
dando sentido ao mundo entre latidos
para deixar um rastro além do tempo.
ROTEIRO DE APRENDIZADO
Cinco cachorros na gaveta • Amor de pai
A persiana do quarto • Tempo do encontro